Duros na
queda (Moacyr Scliar)
Folhateen,
20 de setembro de 2010.
Na semana
passada, as judocas da seleção brasileira voltaram do último Campeonato Mundial
de Judô, realizado no Japão, com a melhor campanha do país na história. As
meninas treinam de quatro a seis horas diárias, de segunda a sábado.
Nos
primeiros encontros, três coisas nela o impressionaram: a beleza, a
inteligência e, detalhe surpreendente, a força com que ela o abraçava. Jamais
ele havia sido abraçado com tamanha energia.
Depois de muito hesitar, ele acabou manifestando sua admiração e
perguntando-lhe a respeito: qual a explicação para aquele vigor, para aquela
esplêndida forma física? Ela riu, revelou algo sobre o qual até então não
tinham falado: - Eu sou judoca. Já participei até de campeonatos de judô.
Mostrou fotos de seus treinamentos no tatame, mostrou medalhas. E, emocionada,
disse que seu grande sonho era ser uma das vencedoras do campeonato mundial.
Ele cumprimentou-a efusivamente pelos triunfos, disse que se sentiria orgulhoso
de namorar uma campeã de judô. No que estava sendo absolutamente sincero. Mas,
nos dias que se seguiram, começou a pensar que aquilo talvez não fosse tão bom
assim, que consequências desastrosas poderiam ocorrer.
Imaginava os dois na cama; por alguma razão surgia um motivo de discussão, logo
estariam batendo boca e o que aconteceria se ela resolvesse atacá-lo a golpes
de judô?
Era uma coisa para a qual ele absolutamente não estava preparado. Levaria uma
surra tremenda, humilhante, e teria sorte se conseguisse escapar ileso do
tatame - da cama, melhor dizendo.
Outro veria nisso um bom motivo para terminar o incipiente namoro.
Não ele. Gostava de fato da garota, queria continuar com ela, mas como fazê-lo
sem correr riscos? Uma ideia então lhe ocorreu: podia, ele próprio, tornar-se
judoca.
Não que planejasse alguma carreira nesse sentido; não, tudo o que queria era
poder defender-se, em caso de uma emergência. De seus temores, porém, não quis
falar à jovem; em segredo, procurou uma pequena academia de judô e pediu para
falar com o instrutor.
Para sua surpresa, não havia instrutor, e, sim, instrutora; uma jovem, como
ele, bonita, simpática. Sim, ela disse, posso lhe ensinar as coisas básicas do
judô num prazo relativamente curto. O preço também era acessível, de modo que
ele, sem hesitar, inscreveu-se no curso.
Um mês depois já estava iniciado na técnica de luta. Mas um problema inesperado
surgira: alguma coisa estava pintando entre ele e a jovem instrutora. O que o
deixou assustado: meu Deus, perguntava, será que minha sina é apaixonar-me por
lutadoras de judô?
Até agora ele ainda não decidiu qual das duas vai namorar. Mas sabe que há um
jeito de decidir essa questão: promoverá um torneio em que as duas acabem por
se enfrentar numa luta decisiva.
Ficará com uma delas. A que for derrotada, claro. Em termos de precaução, é o
mínimo que ele pode exigir: uma namorada que, na cama ou no tatame, possa
enfrentar com mais segurança.
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